26 de janeiro de 2011

POLVO DE GALLINA NEGRA - Artistas feministas: embate dentro e fora dos movimentos

Era uma vez no México a história da união do feminismo e da arte...

Mas para entender é preciso voltar ao ano de 68, que provavelmente é um divisor de águas nos movimentos sociais deste país. Insatisfeitos com a baixa qualidade de ensino, com o regime militar e com a desigualdade social, estudantes mexicanos se articulam e iniciam suas manifestações. Era ano de Olimpíada e o governo decide por fim aos protestos e o exército invade a Universidade Nacional Autônoma do México. Estudantes são espancados e o reitor demite-se.  
LINK Invasão da Universidade do Estado de Santa Catarina pela PM para prender, espancar e atacar com ‘choques’ manifestantes contra o aumento da tarifa de ônibus em 2010 (fotos aqui)


Registros do Massacre de Tlatelolco


Sem se inibir, o movimento aumenta, realiza greves e dia 02 de outubro cerca de 15 mil estudantes secundaristas, universitários, apoiadores da revolução cubana e trabalhadores realizam seus protestos pelas ruas da Cidade do México com cantos e cravos vermelhos. Mas antes de anoitecer a praça foi invadida por militares e a morte de um número até hoje indefinido de pessoas (governo confirma 4 mortos e outras fontes apontam mais de 300) que foram brutalmente assassinadas, outras espancadas e presas. A noite é conhecida como o Massacre de Tlatelolco.


Obra de Monica Mayer, Ilusões
E é neste contexto de mobilização social extrema, para combater o governo autóritário, que as pessoas passaram a se reunir em organizações populares. Normamelmente chamados de ‘grupos’ estes coletivos discutiam política, arte, direitos e toda sorte de temas e fomentavam suas ações. Estes grupos também serviam de espaços independentes de arte e protestos culturais. Aproveitando este momento, mulheres de diferentes núcleos expressam suas lutas contra o machismo através de performances, pintura e artes gráficas. Não é que o feminismo tenha surgido neste momento, mas é neste caldo cultural que essas mulheres se auto-denominam feministas de fato.

Mas, para não variar, a pauta feminista foi em muitas vezes rejeitada ou tratada como segundo plano dentro destes grupos, os ambientes academicos hostis com a quebra dos padrões patriarcais e estas artistas feministas se deparam com preconceito e até mesmo negligência dos críticos e mídia quando, poucas, conseguem expor em museus e galerias.



Eva Enredade - Carla Ripey

Frustradas com a política e com o sexismo dos grupos nos anos que se seguiam, estas feministas passaram a encontrar modos alternativos de se organizar e realizar suas atividades. Exemplo disso foi o Grupo Polvo de Gallina Negra.

Pó de galinha preta é um pó de cor preta muito barato que se vende em qualquer mercado tradicional do México para evitar o mau-olhado. O grupo se utilizou do prórpio nome para fazer uma série de manisfestações feministas como ‘Polvo de Gallina Negra – Para nos proteger das magias patriarcais de fazer desaparecer mulheres’ ou ‘Polvo de Gallina Negra - Receita para botar mau-olhado em estuprador’

  

Fundado por Mónica Mayer e Maris Bustamante em 1983, o grupo reuniu mais algumas artistas feministas e tinham claramente os seguintes objetivos:
• Mudar a imagem da mulher nos meios massivos de comunicação
• Fazer valer suas opiniões nos meios artísticos
• Mudar as estruturas dominantes para facilitar a inserção das mulheres 

Para difundir seus trabalhos e atingir seus objetos, estas mulheres viajaram, deram conferências, muitas vezes em situações extremas de falta de recursos, de estrutura, ocasiões onde toda a platéia esvaziava quando tomavam a palavra, momentos em que eram questionadas pelo seu modo de vestir. Em performances em que muitas vezes apareciam desnudas, sofriam assédio dos artistas homens e chacota de antigos coletas esquerdistas.

Ainda assim, o Grupo trabalhou formamlmente por 10 anos, realizou 28 grandes projetos, realizou cerca de 80 eventos, participou de programas de TV, rádios, jornais, lançaram textos e revistas e segundo Maris Bustamente, nenhum crítico de arte falou disso, durante todo esse tempo, em seus jornais ou colunas.





Para ler sobre o Polvo de Gallina Negra (e que serviu de fonte para este post) depoimento da própria Maris no Blog Arte e Historia México aqui. 

E mais sobre a história das artistas feministas do México aqui.

Mónica e Maris e os 10 anos: 




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