Matéria do site Estadão
José Maria Tomazela - O Estado de S. Paulo
O aposentado João Batista Groppo, de 64 anos, foi preso ontem acusado de manter a própria mulher, da mesma idade e com problemas mentais, presa por 16 anos no porão de casa, em Sorocaba, a 92 km de São Paulo. Casado há mais de quatro décadas, Groppo vivia no local com outra mulher - Maria Aparecida Furquim, presa como cúmplice de cárcere privado e maus-tratos.
"Era de arrepiar. Havia cães e animais soltos no quintal, enquanto a idosa estava no porão, trancada com grade e cadeado", disse a delegada Jaqueline Barcelos Coutinho, que recebeu uma denúncia anônima - supostamente de um vizinho, condoído pelo choro da idosa - e mandou uma investigadora até a casa, na Vila Santana, bairro tradicional da cidade. "Ela não conseguiu contato com a vítima, porque o marido alegou que ela estava muito agressiva." A delegada decidiu então ir ao local, no início da tarde, acompanhada de uma equipe. E o que viu a deixou chocada. A idosa foi achada sem roupa, sobre uma cama de concreto, em um cubículo úmido, mal cheiroso, sem luz nem ventilação. As paredes tinham bolor, teias de aranha e caramujos e as refeições eram passadas pela grade pela amante de Groppo.
O aposentado disse que manteve a mulher presa porque ela sofria de doença mental e, se saísse, fugiria e quebraria coisas. Contou ainda que tirava a mulher do porão a cada dois meses para levá-la ao médico. "Ela tem deficiência mental, mas está longe de ser agressiva", rebate a delegada. "Ao contrário, ficou escondidinha atrás de um pano como um animalzinho assustado."
Segundo Jaqueline, primeiro Groppo afirmou que a mulher estava no porão desde 1995. Na delegacia, mudou a data para 2003. "É uma situação aviltante, em que a vítima estava numa condição que nem para animal servia."
A idosa foi levada ao Hospital Regional de Sorocaba e, após exames, entregue a um filho. Ele alegou não saber sobre as condições da mãe, pois visitava pouco o pai. Groppo foi levado ao Centro de Detenção Provisória e sua companheira, à cadeia de Votorantim. Eles serão processados por cárcere privado, qualificado por agravantes, como idade da vítima e condição de esposa.
Jaqueline conta que a mulher deixou o porão de forma submissa, vestiu a roupa dada pela amante e foi para a viatura sem reclamar. "Ao contrário do que o marido alega, é uma pessoa dócil, totalmente inofensiva."
#FimdaVioleciaContraMulher
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